543 palavras

- Poção mágica? Peraí! Que coisa é essa?



- Bem, achei nas coisas da minha mãe.


- Nossa, cara, e se ela descobrir?


Bruno olhou preocupado o frasquinho dourado que reluzia em suas mãos. Os dois meninos se encontravam no pátio do prédio onde Flávio morava. Ambos olharam simultaneamente para o alto verificando se alguém naquele horário olhava pelas janelas. Ninguém.


- Sua mãe é bruxa?


- Acho que não – Bruno ficou pensativo recordando as reuniões vespertinas em que sua mãe reunia as amigas para o chá. Um dia uma trouxe uma vassoura dizendo que era para o chá de panela. Não estava certo se era ou não sua condução.


- E para que será que serve a poção? Tudo que é mágico acaba mudando as coisas e a gente nem sabe se para melhor ou para pior. – Flávio era mais cauteloso.


- Bem, mas se minha mãe tinha isso guardado no banheiro decerto não deve fazer tanto mal, de repente meu pai podia tomar né?


- Isso tem lógica. Mas qual de nós vai tomar?


-Os dois – Bruno sorriu. Afinal, somos amigos.


- É verdade – disse Flávio. Manda ver!


Cada um pegou o pequeno frasco e tomou metade do líquido levemente ácido que desceu facilmente.


- Está sentindo alguma coisa?


- Por enquanto não, respondeu Bruno.


- Nem eu.


- Espere! Está vendo o sol?


- O que tem?


- Não está parecendo que está mudando de cor? Ficando com uma cara?


- Não estou vendo nada – Flávio colocava a mão protegendo os olhos.


- Olhe bem!


- Dá dor nos olhos! É mesmo, agora parece que estou vendo! Sorrindo para nós!


- E você não está sentindo que está crescendo?


- Pensando bem, parece que minhas calças estão meio curtas nas canelas – Flávio não conseguia se recordar se já estava assim pela manhã.


- E, cara! Se fosse fazer agora a lição garanto que conseguia na metade do tempo! Não! Em um terço!


- Vamos lá, então! Teremos a tarde toda para brincar! Viva a poção mágica!!


Os dois subiram rapidamente para o apartamento de Flávio, que àquela hora estava em silêncio. Dez minutos! Foi o tempo em que resolveram seis problemas de matemática e ainda leram o capítulo de História.


A tarde passou como uma festa de menino! Só bola, jogos e correria.


Bruno voltou para casa coberto de poeira e esfolados. A mãe olhou para ele e logo perguntou da lição. Como estava tudo feito ela nada disse, apenas o mandou para o banho.


Bruno cantarolava no chuveiro, achava que estavam lhe crescendo mais rápido as unhas dos pés. Decerto que acordaria no dia seguinte muito mais alto e forte também. Escovou os dentes com força.


- Vou virar um super-homem – Bruno se regozijou. – E ainda por cima o Flávio vai ficar igual a mim. Seremos dois! Ninguém vai nos superar!


Ensaboava-se como nunca, e seus super-ouvidos captaram a conversa dos pais. A mãe dizia ao pai:


- Benzinho, o Bruno hoje está muito comportado, desconfio que alguma coisa vem por aí. Já viu como foi para o banho rápido? Com as lições feitas?


- Sossegue querida. A propósito, sabe onde está aquele frasquinho que deixei aqui no armário? Era meu exame de urina, ia levar amanhã ao laboratório!

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