Miniconto, ou microconto, ou nanoconto, é uma espécie de conto muito pequeno, produção esta que tem sido associada ao minimalismo. Embora a teoria literária ainda não reconheça o miniconto como um gênero literário à parte, fica evidente que as características do que chamamos de miniconto são diferentes das de um "conto pequeno". No miniconto muito mais importante que mostrar é sugerir, deixando ao leitor a tarefa de "preencher" as elipses narrativas e entender a história por trás da história escrita.
guatemalteco Augusto Monterroso é apontado como autor do mais famoso miniconto, escrito com apenas trinta e sete letras:
Quando acordou o dinossauro ainda estava lá.
Assim como o estadunidense Ernest Hemingway é autor de outro famoso miniconto. Com apenas vinte e seis letras, mas por trás das quais há toda uma história de tragédia familiar:
Vende-se: sapatos de bebê, sem uso.
O número de letras é importante mas não rígido, normalmente sendo atribuído pelos autores ou organizadores de determinada antologia, e naturalmente divulgados na mesma.Marcelino Freire publicou em 2004 a obra Os cem menores contos do século, em que desafiou cem escritores a produzir contos com no máximo 50 letras, por exemplo.
Uma das definições de microconto estabelece o limite de 150 caracteres (contando letras, espaços e pontuação) para permitir seu envio através de mensagens SMS (torpedos) pelo celular, evidenciando uma das características do microtexto, que é sua ligação com as novas tecnologias de informação e comunicação.
No Brasil, o livro Ah,é? 1994, de Dalton Trevisan, é considerado o ponto de partida do miniconto no seu formato contemporâneo. Também se destaca João Gilberto Noll que apresenta obras voltadas para o tema.

[editar]Características do miniconto

  • Concisão
  • Narratividade (muitos dos ditos minicontos são, na verdade, tiradas líricas)
  • Totalidade (um miniconto não é uma story line)
  • Subtexto
  • Ausência de descrição
  • Retrato de "pedaços da vida"
A redução extrema de uma história fazendo com que encaixe até em um tweet não é algo novo, porém encontrou na internet uma forma de expandir a produção. Nos meios impressos, sempre houve um limite para o que pode ser escrito. Em um livro, o enredo pode se estender por infinitas páginas, porém um jornal ou revista possui uma quantidade exata de caracteres que sua história possui. Com o Twitter, que limita as mensagens pessoais para apenas 140 caracteres, os escritores de ficção também se adaptam e quanto menor o espaço, mais direta deve ser a narrativa.
"Os pesadelos começaram depois que o despertador tocou."
(tweet de @cantonholi - Carlos Antonholi, autor de microcontos no Brasil)
Por exemplo, a Revista Collier's pedia que seus colaboradores mandassem textos que encaixassem em uma de suas páginas. Essa limitação criou as Flash Fictions, histórias completas em 1000 palavras ou menos. Nesse gênero, os personagens são geralmente planos, já que não há espaço para aprofundá-los, a descrição do personagem não passa do essencial para a história. Ou para aquele pedaço da história, pois é comum que as Flash Fictions apresentem a história in media res. Dessa forma, também não é possível encontrar diversas funções da narrativa de Propp, a narração é feita dentro de uma ou duas funções e nem sempre encontra-se uma conclusão. Podemos encontrar, então, uma situação de proibição e transgressão ou umm combate sem que haja um desfecho claro. Isso deixa o leitor a vontade para preencher esses "espaços em branco" da narrativa da forma que sua imaginação mandar.
Essa última característica é primordial para o gênero literário mais minimalista, o Miniconto. Também chamado de microconto ou nanoconto, ele apresenta uma narração dentro de apenas uma linha. A ideia é que no mínimo de palavras possíveis, seja apresentado todo um contexto e uma ação em torno do pouco que é revelado por aquelas palavras. Um dos mais famosos Minicontos foi escrito por Augusto Monterroso e se chama O Dinossauro:
"Quando despertou, o dinossauro ainda estava lá".
O leitor deve imaginar, a partir dessa simples frase, os eventos que precedem o acontecimento, assim como as consequências após a descoberta do dinossauro. Com um número pequeno de palavras, há uma expansão de significados que podem ser imaginados para o miniconto. O personagem aqui não é determinado, o que acontece na maioria dos nanocontos, usando a primeira ou terceira pessoa do singular, o sujeito da narrativa fica aberto para ser qualquer pessoa ou o próprio leitor. Mesmo nessa versão, ainda é possível encontrar funções da narrativa de Propp. O miniconto pode apresentar uma panôrama, como o de Ernest Hemingway: "Vende-se: sapatos de bebê, sem uso". Aqui está subentendida a esfera do Dano, em que há a perda de um filho recém-nascido. No caso do Dinossauro, pode-se interpretar o contexto dado como, por exemplo, um Recebimento de Coadjuvante ou uma Designação da Prova. Seria o dinossauro o coadjuvante para auxilar o heroi ou o doador que lhe designou uma prova para comprovar suas forças? O microconto sempre trabalha com narrações inteiras subentendidas em pequenos contextos e ações que dependem da superinterpretação do leitor.

[editar]Autores

Em Espanha e na América, não são as referências clássicas deste tipo : Juan José Arreola, Dalton TrevisanJoão Gilberto NollAugusto MonterrosoGrupo Casa Verde, Ramon Gómez de la Serna, Santiago Eximeno, José Luis Zarate e outros agora escrevendo microrrelatos muito nitidez.
Na literatura francesa, os autores de micronouvelles são Jacques Fuentealba, Vincent Bastin, Stéphane Bataillon e Laurent Berthiaume. São fortemente influenciados pelamicroficción em espanhol. [1]
Em alemão, a Kürzestgeschichten são influenciados por Bertolt Brecht e Franz Kafka. Os principais autores foram Peter Bichsel, Heimito von Doderer, Helmut Heißenbüttel e Günter Kunert.

  1.  Irène Langlet, Les Echelles de bâti de la science-fiction, in Revue française de Fixxion contemporaine - Critical Review of Contemporary Franch Fixxion, n° 1, Micro/Macro, 2011 e Cristina Alvarez, Nouveaux genres littéraires urbains - les nouvelles en trois lignes contemporaines au sein des micronouvelles. in Atas do Simpósio Internacional : Microcontos e outras microformas, Minho, ISBN 978-972-8063-65-8
FONTE: WIKIPEDIA - Valúsia Viana Martins e Valusia Viana Martins

08:48

Novo Concurso

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Atenção pessoal!

Em poucos dias lançaremos uma nova rodada e, desta vez, uma super-rodada premiada.

O vencedor receberá um prêmio em dinheiro e os livros AnaCrônicas de Ana Cristina Rodrigues (http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?isbn=858949506X&sid=9631331281275313808372767) e Os Passarinhos de Estevão Ribeiro (http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=13013042&sid=9631331281275313808372767&k5=1502B50&uid=)

21:08

Haikais Reunidos

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Bruno Resende Ramos




Silêncio mortífero

Caem cinzas do céu
Enquanto aviões passam...
Silenciosas caem



Amor de Outono


Folhas cobrem corpos
Da boca uma laranja cai
Beijo na estação



Espectro outonal


Janelas esperam
As cruzes sobre as folhas
Almas não as tocam




Outonais


Vultos voam no ar?
Sem música tocam o chão
Discos da estação.


Almas perdidas


Vidas entre folhas
Contam suas cruzes mortas...
Almas já sem vida






OUTONO (HAIKAI)
Miguel Carqueija

Outono: folhas,
multidões agonizam,
prossegue o mundo.



Haikai Aguinaldo i peres


Na luz dourada
Vestida em vermelho
A folha baila



Samurai
Álvaro A. L. Domingues


Um haikai em prosa

Ao lado de sua amada o Samurai vê o por do sol e diz:

– Este momento delicado de rara beleza não deve servir de epílogo para um dia cheio de lutas e sangue! Haverá um dia paz? Desejo e temo ao mesmo tempo por este dia. Cansei do ódio, mas não sei fazer outra coisa a não ser lutar.

A amada o olha e responde:

– Acaso algum outro guerreiro vê beleza num por do sol?


Escuridão - Marcelo L. Bighetti

A honra do samurai retorna.
Luz.
A galáxia é linda.

Crepúsculo - João Ventura
    
Nasceu a lua
saindo da montanha.
Morreu o sol...
 
    
Entardecer - João Ventura
    
O vento afaga
a face calma do lago.
Inquietação líquida.

Ana Lúcia Merege - Monogatari




Uma espada corta o ar num longo assovio. A outra separa do corpo a cabeça do oponente. Gotas de sangue escrevem no tatame o ideograma FIM.




Marcelo L. Bighetti - Transcendência


A “tanto” penetra à esquerda da barriga.
Dor. Saquê e sangue.
Puxa a lâmina à direita.
Dor intensa. A veste branca torna-se rubra.
Agora para cima.
Dor excruciante. Tomba ao solo.


Escuridão
A honra do samurai retorna.
Luz.
A galáxia é linda.





Marcelo L. Bighetti  - Do Passado




Do passado, os cientistas trouxeram o Samurai. Seu instinto era selvagem e sua “katana” afiada.






Daniel Folador Rossi - Remorso


Ele corre, porque quer fugir de sua mente e escapar aos seus sentimentos. O seppuku não funcionou: atrás dele ainda correm a Dor e a Culpa, lambendo os beiços.






Aguinaldo I. Peres - Nove-Caudas - Prólogo


O samurai encontrou a raposa na montanha. Ela ofereceu vinho:


- Se me levar, ensino como matar o dragão?


Ele aceitou e seguiu as instruções: embebedou o dragão e cortou as oito cabeças. Satisfeito, nem notou a raposa roubando as oito caudas.




Bruno Cava - Samurai


Até que respeitassem o interdito, o capitão japonês decidiu cortar a cabeça de um chinês em cada dia de culto. Mas os monges incorporaram a decapitação no ritual. Quando a ocupação chegou ao fim, sentiram falta do martírio e o templo fechou.




Bruno Resende ramos - Hrrrai!




Em Kyoto,
Miro torres.


Somos dois silêncios:
Eu e o castelo Himeji.
Sua realeza


Desafia-me a golpes oníricos numa tela.
Defendo-me com ímpetos de Samurai...


Na tela os traços, passos que vencem, no mundo,
A falta de imaginação.

539 palavras

Com um floreio, o japonês terminou de traçar o último kanji e acrescentou com o pincel fino a tradução do haikai. Meticuloso, guardou a tinta, os pincéis e a pedra de tinta. Avaliou o trabalho e, satisfeito, me entregou a folha de papel Washi. Aceitei o presente com reverência e apreciei o poema/arte, mesmo sem compreender o significado.

A luz entrava pela janela e aquecia a sala. Sobre o tapete um lenço de seda branco com dragões vermelhos estava esticado entre mim e o visitante.

- E o que posso fazer pelo senhor?

- Srta Samantha, preciso encontrar uma velha amiga.

- Não seria melhor procurar a polícia, Sr Susanoo.

- Não é rapto nem desaparecimento, portanto a polícia nada faria.

- Mas eu sou apenas uma advogada, não detetive.

O japonês retirou da manga do montsuki um envelope. Desdobrei o papel de seda que continha alguns pelos castanho-dourados.

- Tenho certeza que a senhorita encontrará um meio – Susanoo se levantou e fez uma reverência. – Sayonara.

Permaneci sentada no chão do apartamento, cercada pelos restos do quase-casamento, olhando para os pelos e pensando se deveria começar pelo canil municipal.

-o-

No final, não foi tão difícil. Encontrei uma velha receita na internet e comprei os ingredientes no supermercado do bairro, somente tive que substituir alguns ingredientes que não estavam em acordo com esses tempos de “eco-paranóia”.

Com giz, desenhei no chão da cozinha o hexagrama dentro de um circulo. No fogão, o conteúdo da leiteira borbulhava enquanto adicionava novos ingredientes. Por fim, deixei cair os pelos castanhos que foram sugados com um ´glub’. Fiquei vigiando o hexagrama e esperei.

Tomei um susto quando braços me envolveram e alguém me sussurrou no ouvido:

- Você deveria ficar dentro do circulo. – Uma língua áspera me acariciou a orelha e nas mãos que me abraçavam as unhas cresceram como facas. – Onde está o japonês?

- Estou aqui, ladra.

O abraço se desfez e pude se virar. A mulher estava nua, ou quase, caudas felpudas e douradas lhe envolviam e cobriam quase todo o corpo. Ela se afastou e agora nós três formavam os vértices de um triangulo na cozinha.

- Susanoo-sama, há quanto tempo.

- Muito tempo, desde que me roubou. Mas agora acabou, recuperarei as oito caudas e darei sua pele para minha irmã Amaterasu. – O samurai sacou a espada.

- Velho safado, você só quer me ver nua – a mulher-raposa replicou com falso pudor e deu um passo atrás.

- Espera um pouco! Você não falou em esfolar alguém. – Não sabia o que rolava, mas não iria permitir brigas em minha casa.

- Calada, bruxa!

- Bruxa não! – Aquilo já era demais. Dei um passo à frente, o braço esticado segurando o aerossol. – Sou uma feiticeira! – E disparei o spray de pimenta.

Pego de surpresa e cego, Susanoo recuou até desaparecer através da porta da cozinha para outra dimensão.

- E quanto a você... – a raposa ergueu os braços assustada. – Saia já da minha cozinha, está deixando pelos por todo o lugar. – A yokai sumiu num ‘puff’.

Finalmente sozinha, olhei ao redor. Desenho a giz e pelos no chão, fumaça preta escapando da leiteira queimada, louça suja na pia e mais pelos. Suspirei, precisava parar de mexer com magia.

529 palavras



Vovô já estava meio moribundo, sem saber muito bem se ficava no mundo dos mortos ou no dos vivos. Vivia sempre como um elefante na corda bamba, equilibrando-se por algum artifício divino. E eu, olhando-o, só imaginava a hora em que ele finalmente viria para junto de mim.

Certo dia, ele teve um acesso de tosse tão forte que jurei por todos os fantasmas que a hora havia chegado. Ele tentava puxar o ar, mas seus pulmões pareciam congestionados; o fio de vida que o ligava a terra parecia cada vez mais fino e pronto para se quebrar. Com dificuldade, ele se arrastou até um criado-mudo e, de dentro de uma das gavetas, tirou um pequeno frasco de líquido transparente. Bebeu-o com sofreguidão, tomando cuidado o bastante para não beber todo o conteúdo de uma vez, e logo voltou a sentir-se bem.

Fiquei intrigado e, ao me aproximar, olhei para aquele pequeno recipiente transparente: era minúsculo, onde não caberia mais do que um gole de qualquer líquido.

Numa das raras noites em que fiquei na solidão daquela casa com vovô, vi que uma senhora curvada o visitava. Ela tinha um aspecto odioso, cabelos soltos e sujos, dentes podres e uma gargalhada que, se não era maligna, eu não saberia dizer o que era. Andava com dificuldade, arrastando-se e segurando-se em tudo o que via pela frente. “Sua dívida está se tornando cada vez maior, meu velho”, ela disse ao meu avô, tirando da bolsa um frasco idêntico ao que ele tinha no criado-mudo, cheio do líquido que impedia vovô de morrer. “Não se esqueça de nosso acordo, meu velho: sua vida será eterna por mais cem anos a cada um desses frascos que você tão avidamente consome. Pelas minhas contas, este é o décimo terceiro. Estou certa?”. Vovô fez que sim, como se tivesse medo de dizer alguma palavra àquela velha. Olhava-a com um misto de contemplação, tristeza e cautela. “Desperdice uma gota que seja e eu nunca mais voltarei. Você conhece as regras”. E se foi tão veloz quanto veio, encoberta pela escuridão com um sorriso malicioso estampado nos lábios.

Vovô guardou o frasquinho de volta ao criado-mudo, os olhos marejados de lágrimas. Ele tirou uma foto da gaveta e a olhou como se fosse a coisa mais importante do mundo. Aquela mulher curvada e odiosa estava na fotografia, mas ela não ria com escárnio, nem tinha dentes podres ou cabelos sujos. Era uma versão mais nova e agradável dela, abraçando a cintura de um vovô jovem e fazendo a pose para uma foto em sépia. “Eu nunca derramarei uma gota deste elixir”, ele murmurou para as paredes. “Mesmo que você tenha se esquecido de quem um dia foi, eu nunca esquecerei. Viverei para sempre para nos manter vivos. Para poder te ver uma vez mais, mesmo que apenas uma vez a cada cem anos”.

Quis abraçá-lo e dizer que tudo estava bem, mas simplesmente fiquei olhando enquanto ele tomava a última gota do frasco quase vazio. Colocou-o na última gaveta, junto com as outras onze garrafas vazias e a foto amarelada. Cento e vinte anos de sofrimento e solidão. Faz mesmo tanto tempo assim desde que morri?

511 palavras

O cavaleiro viajou durante muitas semanas até chegar à famosa cidadela. Nela, o alquimista gnóstico vivia na mais alta torre. Lá morava como um eremita, sem contato com o mundo terreno. Diariamente, fazia descer de corda uma cesta com peças de ouro, que os cidadãos trocavam por víveres e ingredientes. Mas nesse dia, o cavaleiro saltou na última hora e se agarrou na corda que subia. Ao atingir o topo, sacou da espada e exigiu que o cientista lhe contasse os seus maiores segredos. O alquimista levou o cavaleiro ao laboratório. Ordenou que defecasse num frasco de vidro e, com sua arte, transformou as fezes em ouro.


--- Você é excremento. Você é ouro. Tudo está em tudo. A matéria é Deus.

Mas o aventureiro não se deu por satisfeito. Demandou que o erudito lhe desse a sabedoria absoluta para ele se tornar o novo messias. O gnóstico contou que detinha a fórmula de preparo para a poção da sabedoria absoluta. Mas para isso, o cavaleiro deveria trazer o mais raro dos ingredientes: a flor de lótus púrpura. E ela só cresce no cume da Montanha dos Filósofos. Perguntado onde fica, o sábio explicou que a montanha só pode ser encontrada por quem não a procura e, de qualquer forma, para achá-la, ele deveria cumprir uma jornada de seis desafios.

Tomando emprestado o balão do alquimista, o cavaleiro partiu e engajou-se em sua busca durante meses. No princípio, achava que enfrentaria tempestades, labirintos, armadilhas e feras. Porém logo descobriu que, mais do que desafios físicos, cada episódio era parte de uma cuidadosa preparação espiritual. Dividia-se em seis etapas: a confusão, o medo, a miséria, o silêncio, a vontade de nada e a auto-anulação. Seis fases que o cavaleiro superou com engenhosidade e firmeza de propósitos.

No final da sexta, adentrou naturalmente em um estado de meditação profunda, e assim o caminho para o zênite da Montanha revelou-se como por encanto. Na subida, o cavaleiro foi tentado por um jardim de delícias, em que poetas, atores, escritores e filósofos haviam sucumbido. Mas ele perseverou. Um pouco antes do objetivo, foi ainda confrontado com uma dificílima prova, cujo fracasso significaria a morte certa, mas o cavaleiro novamente venceu. Triunfante no alto da Montanha dos Filósofos, colheu a lótus púrpura.

O alquimista preparou a poção e o cavaleiro bebeu sem deixar uma gota. Um vento tórrido engolfou-lhe das entranhas e a escuridão mais escura tomou os seus olhos. Agasalhou no peito os reinos sem fim do conhecimento e, mais além desses monumentos da verdade, golpeou-lhe de uma só vez o absurdo original e seus enigmas mais abissais.

O alquimista alertou:

--- Muita parcimônia. Você agora entende não entendendo, toda a ciência transcendendo.

Mas o cavaleiro estava obstinado em seu desígnio de levar aos povos a Boa Nova. Desceu à superfície, declarou-se profeta e conclamou a todos para o anúncio da Verdade. Uma multidão já se reunia desconfiada a seu redor, quando o cavaleiro se deu conta da revelação mais terrível de todas. O conhecimento último era incomunicável.

O cavaleiro foi preso, torturado e executado.

497 palavras


A pequena Audrey há dias que não saía do quarto. Sua mãe, preocupada, batia à porta e acabava por deixar a comida numa bandeja. À noite a porta se abria sorrateira e a bandeja sumia, voltando vazia pela manhã. A mãe, desolada, apenas afastava-se e ia para sua lide diária.


Dentro do quarto, às escuras, Audrey misturava as cores do arco-íris, o perfume das noites de verão, folhas douradas de outono e outros ingredientes que tais. Como o fazia apenas ela em seus sonhos sabia. Os ventos do ártico e o canto das cigarras em noites de verão giravam por sobre sua mesa de ferramentas estranhas.


Provou da estranha poção no seu gato e ele gemeu numa estranha careta.


-Ainda não completei os ingredientes – a menina, compenetrada, pensou consigo mesma.


- Audrey, abra a porta – sua mãe chamava em vão.


- Ainda não, mãe. Estou terminando a tarefa.


Audrey sempre foi fascinada por metafísicas experiências, porém nem sempre bem sucedidas. Menina solitária pouco afeita a amizades efêmeras convivia apenas com a mãe e a avó num sobrado de dois andares ao topo de uma colina. O gato Felício era seu companheiro fiel nos passeios matinais e nas misteriosas incursões noturnas por reinos sequer imaginados.


As brisas de outono giravam mais rapidamente subindo até o teto coberto de estrelas brilhantes de papel. A noite ia avançada, lá fora a lua cheia fazia refletir no quarto quase escuro os pequenos pontos. O teto quase parecia uma abóbada celeste. Uma a uma, ela havia colado as estrelinhas que brilhavam ao se apagar as luzes.


Lentamente uma suave fragrância lembrando flores exóticas do oriente, mágicos licores de terras distantes se evolava do material dourado que se formava centímetros acima da mesa.


O gato miou suavemente se aproximando de Audrey, enovelando-se sinuosamente entre suas pernas. Elevava o frágil focinho para o ar, sacudindo suavemente seus bigodes felinos.


- Estou chegando lá – Audrey pensou desta vez. Será que vou conseguir? E se não conseguir?


Uma melancolia suave a invadiu, duas lágrimas salgadas pingaram sobre a névoa dourada. Lágrimas suaves e sentidas de experiências anteriores mal sucedidas.


Lentamente a névoa dourada tomou matizes suaves e Audrey viu reluzirem as cores do arco-íris juntamente com o dourado do sol, o prateado da lua, o incolor dos ventos e todas as tonalidades dos mares. Longínquos astros enviavam silenciosos suas radiações de outras eras.


Seu coração disparou, o gato sumiu sob a cama, Audrey sentiu um calafrio percorrer seu pequeno ser. A névoa cresceu e suavemente a envolveu. Audrey levitou por alguns instantes. O intenso perfume, o melhor do mundo, levou-a a ter certeza de que tinha descoberto desta vez.

Pela janela de seu quarto soprava a brisa de verão carregada pelo cintilar dos vaga-lumes. Decidida, a menina saltou pelo quadrado aberto sobre o espaço. Aureolada por todas as cores do espectro, a pequena Audrey flutuou como se pudesse alcançar a luz das estrelas.


Alguns acreditam em bruxas ou fadas. Audrey, não. Apenas na força do pensamento.

548 palavras


Alucinógenos? Viagens astrais? Abduções?


O fato é: Sérgio era um absoluto cético. Para ele real era o que ele podia tocar, cheirar, ouvir e assim era o Sérgio.


Convidei-o um dia a provar a poção mágica da Alzira. Ele me olhou zombeteiro, e em tom de mofa repetiu:


-Poção mágica? O que é isso, cara.


- Estou falando sério. A Alzira só cozinha aos domingos. Não sei que ingrediente usa naquela feijoada, mas o fato é que coisas estranhas acontecem sempre depois do almoço.


-Indigestão, talvez? Não acredito em bruxas, mas é bom levar sal de frutas.


Ninguém nunca soube em que Alzira trabalhava. O fato é que levantava cedo todo dia, pegava o ônibus e só voltava à noitinha. Uma vez lhe perguntei, ela desconversou.


Vizinhos diziam que em noites claras viam sombras voando e aterrissando ao redor da casa dela. Não acredito em nada disso. Nem nos ruídos malignos que diziam ouvir altas horas.


Alzira era um doce de pessoa, não faria mal a ninguém. Não fora dotada de beleza física, mas era um coração generoso. E só cozinhava aos domingos.


Consegui finalmente arrastar o Sérgio na semana passada. Chegamos ao meio dia em ponto. A cachaça já estava sobre a mesa, uns petiscos arranjados em pratinhos.


Três colegas do serviço e mais uma amiga da Alzira já estavam lá. Amiga estranha aquela, parecia que tinha um olho para cada direção, nunca se sabia para onde ela estava olhando.


A feijoada veio farta. Dizem que feijoada é comida herdada pelos habitantes das senzalas, africanos muito versados em magias e superstições. O Sérgio ria delas.


Comemos a feijoada. O Sérgio se empanturrou. Depois do almoço, naquela hora em que os pensamentos parecem querer adormecer, a Nilda levantou e começou a executar uns passos de dança. Nenhum de nós prestava muita atenção, parecia que estávamos atados às nossas cadeiras como se estivéssemos amarrados.


Sérgio parecia nauseado, quis levantar, mas visivelmente não conseguiu. Eu estava muito amortecido para conseguir ajudá-lo. Uma fumaça azulada começou a preencher o ambiente. A Alzira apareceu com um cocar de penas acompanhando a Nilda na dança que parecia cada vez mais macabra.


Eu não conseguia perceber se sonhava, estava drogado ou se algum ente maligno me corroia as entranhas. Alguma azia talvez. Mas algo além. Nossos outros três colegas haviam sumido, eu apenas via o Sérgio babando e sorrindo tolamente. Depois vi a mim mesmo profundamente adormecido e totalmente amarrado numa cadeira.


As duas dançavam ao meu redor e me lançavam uma série de sortilégios. Depois se dirigiram ao Sérgio. Nilda subiu como um duende sobre o peito dele que arfava. Ele parecia ter dificuldade para respirar. Então ela abriu bem a sua boca e de lá do fundo do meu amigo puxou algo como um véu muito tênue. Depois disso Sérgio adormeceu como um bebê.


Não me perguntem como acordei na segunda feira na minha cama. Nem como Sérgio acordou no meu sofá da sala cercado de vômito. O fato é que corremos para o trabalho no meu carro, Sérgio nem lembrava onde havia deixado o dele e estávamos atrasados.


Na empresa descobrimos que nossos três colegas haviam faltado, certamente com problemas de estômago. Depois soubemos que haviam viajado para destino incerto.


Poção mágica?


Sérgio se tornou reticente, prefere não falar no assunto.

542 palavras

Caro Mestre,



Espero que esta carta o alcance o mais rapidamente possível e que o seu perdão também me alcance quando terminar sua leitura. Sem rodeios: há sete anos, quando deixei sua oficina, trouxe comigo sua poção de atração, cuja fórmula jamais me revelou, mas a qual atribuía o sucesso de seu casamento com sua linda esposa.


Pois agora sou igualmente casado com uma mulher maravilhosa desde que a tomei (toda a garrafa, ouso revelar). Descobri também que a poção traz um pequeno inconveniente: já temos seis filhos e ela espera o sétimo para a próxima lua. Não que não os ame, mas minhas finanças já apertadas estão chegando ao limite. Como o senhor teve apenas uma menina, cheguei a conclusão de que havia descoberto a solução para este dilema com outra poção. Desde então, tenho tentado produzir um complemento àquela fórmula desconhecida com o que aprendi durante nosso produtivo período como professor e aluno.


Infelizmente, e como o senhor já deve imaginar, não fui bem-sucedido.


A primeira tentativa me deu orelhas imensas que cobrem todo o meu pescoço; a segunda, ampliou minha barriga como se eu bebesse um barril de cerveja por dia. Ganhei também um par de asas enrugadas e fétidas nas costas, além de um rabo preênsil, que não é de todo mal, já que me ajuda a manipular os objetos da minha oficina. Surpreendentemente, minha esposa e filhos não rejeitam minha aparência asquerosa (esqueci de mencionar: também estou calvo e com a pele levemente esverdeada). Na verdade, parecem me enxergar como se eu fosse o mesmo homem de quando a conquistei.


Não posso dizer o mesmo do restante da aldeia: Já tentaram me apedrejar duas vezes. Hoje vivo escondido, recluso no porão de minha própria casa. Ainda trabalho para o senhor das terras daqui, mas ele reclama o tempo todo de que nunca mais viu meu rosto. Todo dia, invento uma nova desculpa para não deixar minha masmorra pessoal.


Declaro meu arrependimento e a disposição em me submeter a julgamento pelo crime de roubo, pelo qual peço-lhe humildemente perdão, Mestre. Peço que perdoe a ambição de um aprendiz tolo e jovem, que aprendeu, da pior forma possível, as consequências de sua cobiça desastrada.

Com os desejos de felicidade e saúde usuais,

Seu Aprendiz.




Meu Caro Aprendiz,

Sua carta muito me comoveu. Sempre pensei no que havia lhe acontecido durante estes anos. Saiba que outro aprendiz foi considerado culpado e, mediante tortura, confessou o crime. Saiba também que o segredo da segunda fórmula são as lágrimas do dragão Elligar, com quem eu negociava há anos – segredo, aliás, que o aprendiz torturado, preso e mais inteligente do que você descobriu sem a minha ajuda. Seu pai é um caçador de dragões de reputação impecável, então pode imaginar o desfecho desta história.


Lamento ter de revelar a você que, sem este componente, a poção perde seu efeito após exatos oito anos de ingestão. Minha mulher me abandonou no ano passado e levou minha filha, que não quer mais me ver.


Apenas não lamento a convivência interrompida entre mim e você porque, em breve, e apesar da imensa distância que nos separa, irei visitá-lo. Acredite: ficarei imensamente feliz em vê-lo.



Com os desejos usuais de que vá para o inferno,



Seu ex-Mestre.

- Quero voar.



Dito de forma lacônica, aquilo fez emudecer o jovem feiticeiro. Lá fora continuava a chover, encharcando o solo da floresta, que começava a se cobrir de folhas amarelas e vermelhas. Era quase outono.


- Não me convida a entrar? – perguntou o recém-chegado. Seus ombros preenchiam a largura da porta. O feiticeiro recuou para lhe dar passagem, franzindo o cenho diante daquela sem-cerimônia.


- O que deseja? – perguntou.


- Eu já disse. Quero voar – repetiu o senhor da guerra.


Um silêncio se abateu sobre os dois enquanto se mediam com o olhar. O feiticeiro era alto, porém magérrimo. Seu pescoço emergia vulnerável da túnica puída, e sua casa era pobre e rústica. A única riqueza era a que não se via: o que só se podia supor pelos molhos de ervas sobre a lareira, pelos potes de conteúdo misterioso nas prateleiras ameaçando cair. Fora isso que trouxera o cavaleiro à sua presença.


- Quer voar. – O feiticeiro quebrou o silêncio. – Por uma noite? Três, talvez, para visitar uma donzela? Ou sete noites, a cada lua nova?


- Não – respondeu o cavaleiro. – A vida toda.


- Toda? – alarmou-se o jovem.


- Toda – respondeu o outro. Tirando uma bolsa do cinto, ele a atirou sobre a mesa, o som deixando adivinhar um bom punhado de ouro que, no entanto, o feiticeiro não fez menção de tocar.


- A vida toda é impossível – disse. – Não tenho esse poder.


- Então consiga. – Um novo clangor de metal: dessa vez a espada deixara a bainha. – Nos seus livros, no inferno, pouco importa. Quero voar!


Fria como gelo, a ponta da arma tocou a garganta do jovem. Ele a afastou, olhos fixos no cavaleiro, como se quisesse dissuadi-lo de sua ideia ruim.


- Tem um jeito – disse. – Mas você não vai querê-lo.


- Eu perderia minha alma?


- Não.


- Então eu quero – disse o homem da espada.


O feiticeiro deu de ombros e se ergueu, indo até a lareira, onde pôs água a ferver. Dirigiu-se então à fila de prateleiras e passou a abrir e fechar potes, de cada um tirando ingredientes que atirava na panela. O cavaleiro o contemplava de braços cruzados, tranqüilo na certeza de que não seria traído. Em todo o vale e nas montanhas, era sabido que um juramento muito antigo impedia o feiticeiro de mentir.


A poção ferveu durante um quarto de hora, quando foi posta a esfriar. Impaciente, o cavaleiro dava voltas pela sala, enquanto o jovem escrevia em seu grimório. Assim estiveram uma hora inteira. Então, o feiticeiro coou num pano o conteúdo da panela, estendendo ao senhor da guerra uma taça cheia de um líquido turvo.


- É a poção? – indagou o cavaleiro.


- É a poção – confirmou o jovem.


- Me fará voar?


- Enquanto você viver – foi a resposta.


O cavaleiro levou a taça aos lábios e bebeu, seu pomo-de-adão subindo e descendo até que o conteúdo se esvaziasse. Devolveu a taça e sorriu – um último sorriso antes que sua boca se abrisse, deixando escapar um som agudo que repercutiu nas quatro paredes. Seus braços, de mãos e dedos subitamente alongados, se estenderam para abarcar o ar, e ele se elevou num impulso, atravessando a janela rumo à escuridão.


- Tenha uma boa vida, morceguinho – desejou o feiticeiro.

543 palavras

- Poção mágica? Peraí! Que coisa é essa?



- Bem, achei nas coisas da minha mãe.


- Nossa, cara, e se ela descobrir?


Bruno olhou preocupado o frasquinho dourado que reluzia em suas mãos. Os dois meninos se encontravam no pátio do prédio onde Flávio morava. Ambos olharam simultaneamente para o alto verificando se alguém naquele horário olhava pelas janelas. Ninguém.


- Sua mãe é bruxa?


- Acho que não – Bruno ficou pensativo recordando as reuniões vespertinas em que sua mãe reunia as amigas para o chá. Um dia uma trouxe uma vassoura dizendo que era para o chá de panela. Não estava certo se era ou não sua condução.


- E para que será que serve a poção? Tudo que é mágico acaba mudando as coisas e a gente nem sabe se para melhor ou para pior. – Flávio era mais cauteloso.


- Bem, mas se minha mãe tinha isso guardado no banheiro decerto não deve fazer tanto mal, de repente meu pai podia tomar né?


- Isso tem lógica. Mas qual de nós vai tomar?


-Os dois – Bruno sorriu. Afinal, somos amigos.


- É verdade – disse Flávio. Manda ver!


Cada um pegou o pequeno frasco e tomou metade do líquido levemente ácido que desceu facilmente.


- Está sentindo alguma coisa?


- Por enquanto não, respondeu Bruno.


- Nem eu.


- Espere! Está vendo o sol?


- O que tem?


- Não está parecendo que está mudando de cor? Ficando com uma cara?


- Não estou vendo nada – Flávio colocava a mão protegendo os olhos.


- Olhe bem!


- Dá dor nos olhos! É mesmo, agora parece que estou vendo! Sorrindo para nós!


- E você não está sentindo que está crescendo?


- Pensando bem, parece que minhas calças estão meio curtas nas canelas – Flávio não conseguia se recordar se já estava assim pela manhã.


- E, cara! Se fosse fazer agora a lição garanto que conseguia na metade do tempo! Não! Em um terço!


- Vamos lá, então! Teremos a tarde toda para brincar! Viva a poção mágica!!


Os dois subiram rapidamente para o apartamento de Flávio, que àquela hora estava em silêncio. Dez minutos! Foi o tempo em que resolveram seis problemas de matemática e ainda leram o capítulo de História.


A tarde passou como uma festa de menino! Só bola, jogos e correria.


Bruno voltou para casa coberto de poeira e esfolados. A mãe olhou para ele e logo perguntou da lição. Como estava tudo feito ela nada disse, apenas o mandou para o banho.


Bruno cantarolava no chuveiro, achava que estavam lhe crescendo mais rápido as unhas dos pés. Decerto que acordaria no dia seguinte muito mais alto e forte também. Escovou os dentes com força.


- Vou virar um super-homem – Bruno se regozijou. – E ainda por cima o Flávio vai ficar igual a mim. Seremos dois! Ninguém vai nos superar!


Ensaboava-se como nunca, e seus super-ouvidos captaram a conversa dos pais. A mãe dizia ao pai:


- Benzinho, o Bruno hoje está muito comportado, desconfio que alguma coisa vem por aí. Já viu como foi para o banho rápido? Com as lições feitas?


- Sossegue querida. A propósito, sabe onde está aquele frasquinho que deixei aqui no armário? Era meu exame de urina, ia levar amanhã ao laboratório!

16:14

Organizando!!!! Aguardem

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Caros leitores e escritores!

Aguardem que em mais um ou dois dias deveremos ter publicada a nova rodada!!

Recebemos um número bom de contos e logo vamos organizá-los para leitura, e
também para votação.

Até lá!!

16:16

Tema da 2a. Rodada de 2010

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=> Minicontos (entre 450 e 550 palavras): “Poção Mágica” gênero Fantasia



=> Microcontos (até 200 caracteres, sem contar espaços em branco): “Samurai” gênero Livre


=> ESPECIAL: HaiKai - tema "Outono"



O HaiKai deverá ser no formato tradicional

(3linhas), forma livre, mas sendo sugerida a formatação tradicional (5

silabas - 7 silabas - 5 silabas), podendo ou não apresentar rima.





Enviem seus haikais, mini e/ou microcontos até o dia

31 de MAIO - SEGUNDA-FEIRA - SOMENTE PARA leocarrion@hotmail.com






AVISOS IMPORTANTES E BASTANTE CHATOS - LEIA TODOS:



a) Atenção para os tamanhos regulamentares de cada modalidade (está

escrito depois do nome da modalidade, micro ou miniconto). Você é um escritor,

tem que saber lidar com limitação de tamanho de texto e ser esperto. Fique

ligado, demonstre o porquê de você estar na nata cultural;

b) Pode mandar quantos quiser. Se mandar mais de um dizemos obrigado.
Se mandar mais de dois, obrigado e obrigado;

c) Gênero livre, "pero no mucho". Segundo decidido pela maioria dos

integrantes da lista que se manifestaram sobre o assunto, "livre" quer

dizer: FC, Fantasia e tolerado horror/terror. Se você é um destes

teimosos causadores de confusão e quiser mandar de outro gênero, não será

expulso da lista, nem deixará de participar do projeto. Mas pode ser menos votado

por isso.


d) Tente mandar o texto em anexo .doc, .rtf, .txt ou .odf. Não mande no
corpo do email. Ao que parece a pessoa que cola os textos no blog não

tem a habilidade que se espera e faz uma grande confusão caso vc mande no
mail mesmo.

e) Para participar é obrigatório se inscrever antes na Fábrica dos

Sonhos (www.fabricadossonhos.org). Na dúvida mande um email para a coordenadora Ana Cristina (anacrisrodrigues@gmail.com).


f) Vale ser inventivo quanto ao formato dos mini e microcontos como fazê-los em forma de página de jornal, HQ, reportagem, telegrama, etc. Se for bem feito, claro.


g) Mande suas dúvidas para nós, não hesite! E participe.



Mais informações? Quer ver como foram as rodadas anteriores para entender melhor?

Acesse: http://minimicrocontos.blogspot.com


E sobre a Fábrica dos Sonhos (oficina gratuita de FC, Fantasia, Horror, Suspense, etc...) www.fabricadossonhos.org

Ana Rodrigues, vencedora do prêmio Sandman (com seu gato, Neil)


15:51

Início da Votação!

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Atenção pessoal!

Se inicia a votação que vai até o dia 30, 11h45m (horário do site, não sei exatamente se tem relação com o horário brasileiro).

Participem!

15:42

Temas

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Haikais - Tema: Vento

Microcontos - Tema: Oceano

Minicontos - Tema: Centauros

550 palavras

Suando, o corpulento e moreno homem limpava cuidadosamente, à fraca luz de uma lamparina, a estranha parede de tijolos cozidos. Acondicionada numa sessão retangular escavada na parede de rocha.
Torcendo intimamente para que a estrutura datasse de antes de Cristo,o arqueólogo Géorgios Kafávis, recentemente aposentado, acalentava com assovios animados a perspectiva de finalmente descobrir algo relevante e que não tivesse sido pilhado da Grécia por invasores no passar dos séculos.
Este sonho bobo, opinião de sua esposa, era a motivação que lhe impulsionava com 65 anos a buscar tesouros, baseado em relatos colecionados durante anos em conversas de taverna e reuniões de colegas de profissão, todos próximos da decrepitude.
Fora então, há poucos dias, que com genuína desatenção ouvira de seu lugar ao balcão, os berros e insultos de um velho dono de bar contra dois garotos. Por terem inutilizado dezenas de talheres.
Assustados com a perspectiva de uma surra, os pobres meninos da miserável região da prefeitura de Magnésia, entre lágrimas, tentavam explicar ao pai que não imaginavam que o “grude” da caverna onde haviam brincado estragaria os talheres, impregnando-os com uma fina camada de pó não lavável.
Interessado no assunto, e penalizado, Géorgios cobriu os poucos Euros de prejuízo em troca de que o rude pai perdoasse os meninos e de que estes o levassem-no ao local, que não tinha dúvidas, tinha magnetita. Minério raro na região, ainda que ela mesma tivesse seu nome em seu tributo.
Da visita descompromissada a caverna, localizada em meio a morros desabitados, à descoberta daquela parede cravada entre os cinzentos cristais octaédricos, foi um pulo.
Duas semanas depois de solitário e calmo trabalho. Estava prestes a terminar a limpeza da última seção exposta de tijolos não protegida por lona.
- Finalmente! Disse sentando-se e secando a testa com um lenço. Aumentou a luz da lamparina, única opção devido ao fortíssimo magnetismo local, que destruía todo equipamento elétrico. Puxou delicadamente a lona presa a parede.
Em pé, majestoso, pode visualizar em preto, destacando-se dos tijolos enegrecidos pelo tempo. Um grande centauro, carregando estranhas armas e sendo acertado por um raio.
Sentiu o prazer de um sonho realizado. Leu as palavras escritas na pedra. Um aviso para que a parede não fosse retirada e o presente de Zeus preservado.
Ignorou-o. Não havia espaço para religiosidades idiotas no mundo científico. Lembrou-se fugazmente que estava na região da Tessália, lar mitológico dos centauros. Sorriu.
Amanhã receberia ex-alunos para ajudá-lo, teria a parede removida. Dormiu ali mesmo.
Às dez da noite do dia seguinte os últimos tijolos haviam sido meticulosamente retirados. Atrás, uma pilha de pedras prendia-se a uma grande estátua de bronze.
Transportaram a estátua para fora. E noite adentro a limparam do pó e pedras estranhamente agarradas, visto bronze não ser magnetizável.
Ao nascer o sol os homens comemoraram, estava intacta e perfeitamente preservada. Não tiveram tempo para muito mais coisa. Em instantes ela desmontou-se ruidosamente, saindo de seu interior oco um imenso robô de quatro patas e busto com longas armas. Ficou estático por alguns segundos e em seguida matou a todos, ainda paralisados de surpresa e confusão. Duas horas depois, a NASA captaria movimento no lado escuro da Lua e objetos não identificados, até então enterrados, vindo em direção a Terra. Destino? Principais capitais. Géorgios encontrara algo relevante, mas não para a “arqueologia”.