527 palavras


Tudo calmo como sempre fora, saí à rua feliz. Todos sorriam. Por onde
passava bons dias flutuavam da boca dos passantes. E deles para os outros e
outros. Todos naturalmente jovens e belos, atletas bonachões com músculos
definidos até quanto o normal almeja.
O dia estava lindo. O sol serpenteando entre o concreto dos prédios,
atingindo os jardins que circundavam todas as ruas da cidade. Sorri para a
garota que colhia as flores quando a brisa leve fez seu vestido subir e
corar sua face.
- Olá, Li.
- Olá...
- Estou só de passagem hoje. Tenha um bom dia!
- Catando estas coisas lindas, como poderia não ter? - Ela riu.
No prédio do escritório, peguei o elevador panorâmico. Conforme subíamos,
era como se fôssemos para mais perto do Sol. Como esquentava! Mas na
cobertura havia uma leve brisa, que tornava as tarefas do dia-a-dia mais
tranqüilas. O ar-condicionado já nem fazia mais tanta falta; o planeta
sempre em primeiro lugar. Encontrei meu colega de sala já remexendo no
tanque dos peixes.
- Olá Mer.
- Def...
- Parece desanimado hoje, os peixinhos não estão lhe agradando?
Mer encarou-me com uma expressão estranha. Fiquei em dúvida se aquilo
poderia uma agitação estomacal. Em seguida ele bateu com a mão em meu rosto
com força. Caí no chão; a cabeça rodava e um gosto metálico estranho veio à
boca. Na seqüência uma dor aguda surgiu no estômago. Perdi a respiração,
tossi e vomitei. Apaguei logo depois de notar Mer levantando o aquário em
minha direção.
Quando despertei, tudo estava escuro. O corpo todo latejava; os movimentos
eram lentos e difíceis. O Sol havia sumido, mas o calor continuava. Havia
uma luminosidade alaranjada vindo da minha direita. Consegui levantar e aos
poucos meus olhos se acostumaram ao ambiente. Era uma plataforma metálica a
céu aberto que terminava em um caldeirão fervente, de onde vinha a luz. O
horizonte era escuro e amarronzado, cortado por torres de fumaça negra que
emanavam de outros tantos caldeirões como aquele. Névoa escura cobria o
chão, tornando difícil enxergar além das pilhas de dejetos que se
amontoavam. O próprio ar era denso e carregado de fuligem que descia das
nuvens negras. Só podia estar sonhando.
- Acho que você teve um leve mal estar e bateu a cabeça, Def - Mer
gargalhou, enquanto remexia em um tanque cheio de um barro negro e
fedorento. De lá ele tirou dois pequenos globos brancos e mostrou-os para
mim. - Olhe só estes peixinhos da mentira!
Ele guardou os globos em seu macacão sujo e rasgado enquanto ria.
Desesperado em acordar do pesadelo, corri. Tropecei em pedaços de corpos
humanos ensangüentados.
- Está bagunçando seus papéis, Def! - Mer gritou de longe.
Segurei a ânsia e continuei correndo. Encontrei uma plataforma levadiça.
Conforme descia o calor da caldeira deu lugar a um frio de gelar os ossos.
Tremendo cambaleei pelo lodo, apoiando-me em pilhas de pneus e restos de
comida. Vi alguém catando coisas nas pilhas, com LI-XO escrito bem grande
nas costas do macacão.
- Li...?
- Def? Saiu mais cedo hoje? Ainda vamos jantar mais tarde? Tenho um presente
para você, sei que gosta de rosas.
Em suas mãos ela levantou um cão apodrecido enrolado em jornais e riu.

2 comentários:

Aguinaldo disse...

Interessante... mas a transição não fez o mínimo sentido... Como? Porque?
O desenvolvimento está perfeito...

Leo Carrion disse...

Achei macabro demais, e só por isso valeu. Mas não entendi bem a ligação entre a parte inicial e a final. Foi sonho apenas? Mas então o personagem não ficaria tão abalado qdo desperta para a realidade, porque nos sonhos assim que acordamos nos damos conta da realidade. Se foi outra coisa, vc deveria dar uma pista. Mas afora este fato, gostei muito do texto. Valeu!

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