450 Palavras


- Você é o primeiro humano que consegue nos encontrar nos últimos trezentos anos!
O rapaz sorriu em um misto de orgulho e respeito. Empreendera uma longa jornada para conseguir encontrar o legendário Oráculo capaz de responder a todas as perguntas: pesquisara nas bibliotecas mais cheias de ácaro, buscara relíquias nos museus mais decadentes, viajara por todo mundo para encontrar as pistas perdidas que o poderiam levar à localização exata daquele lugar.
Fora um jogo de sorte encontrá-lo quando seus suprimentos já estavam no fim. Sabia, por suas pesquisas, que a localização do prédio seria alterada assim que saísse dele para que, no futuro, outra pessoa pudesse encontrá-lo para responder ao seu mais profundo dilema.
A arquitetura do prédio lembrava a de um templo grego e as duas garotas que o receberam na entrada daquele lugar tinham um quê de etéreo, como se não pertencessem ao mundo. Bom, na verdade não podia dizer se pertenciam ou não. Andavam em silêncio pelo corredor até chegarem a um portal. Quando o atravessasse, poderia fazer a pergunta que tanto o angustiara por toda a sua vida.
- Conhece as regras – uma das garotas disse.
- Uma única pergunta e uma única resposta, nada mais lhe é permitido.
O rapaz assentiu com a cabeça. Pelo que lera, sabia que apenas aqueles realmente angustiados seriam capazes de encontrar o Oráculo, que daria a resposta correta a apenas uma pergunta. Deveria escolhê-la bem, apesar de ser tão óbvia que não daria margem a interpretações equivocadas.
Respirou fundo e entrou na sala. Era um grande e amplo salão, mas que continha apenas uma almofada e uma senhora sentada sobre ela. Talvez ela possuísse a mesma idade da humanidade, dada a quantidade de rugas e manchas e os poucos fios de cabelo branco ainda presentes. O rapaz ouviu sua voz, surpreendentemente firme e melodiosa:
- Faça a sua pergunta agora.
Ele respondeu fundo, retirando de sua mochila uma bandeira de um verde, amarelo e azul intensos e outra azul-celeste e branca e as apertou com força junto ao coração. Podia perguntar o que quisesse: qual a ação mais rentável a longo prazo que o pudesse deixar rico, como conquistar a mulher de sua vida, o que fazer para se tornar eternamente feliz. Entretanto, uma pergunta o angustiara por toda vida, dividido entre seus pais de nacionalidades diferentes. Não tinha idade para tirar a dúvida pessoalmente – e ter convivido desde sempre com as opiniões mais diversas não ajudara muito. Nunca poderia usar argumentos para provar a resposta, mas apenas saber qual era a correta já lhe tiraria um grande peso do coração.
Respirou fundo.
- Afinal, quem foi melhor: Pelé ou Maradona?

2 comentários:

Anônimo disse...

Boa piada. Preparou o clima e fez a brincadeira, legal :) Mas e se a senhora for argentina???

Anônimo disse...

Ana Carolina, gostei da preparação que deu em seu texto. Há um que de cerimonial, de densidade, de seriedade. E o final com uma piadinha dessas...esse nem precisa ser um Oráculo para responder - FOI O PELÉ, O NEGÃO...

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