549 Palavras


Ela sentiu uma corrente de calor se misturar ao frio que fingia não sentir.

Depois de algumas incontáveis horas dolorosamente silenciosas na vastidão gelada da taiga siberiana, ela viu a luz azul surgir do meio da aurora boreal.

Levantou-se num átimo, como um bom soldado deve fazer diante do seu comandante.

"Glissai, Miriam Kolouboff a postos para a transmissão."

Da luz surgiu um homem de feições brutas e olhos violáceos astutos. A barba cerrada lhe dava um aspecto desleixado, mas as roupas negras retas estavam impecavelmente bem postas.

Ele olhou a extensão de neve e respirou o oxigênio terráqueo com vontade. Miriam sorriu à cena e sentiu que seu corpo se preparava para recebê-lo, quase sedento, se não fosse desrespeitoso.

Ela tentou conter o frenesi trincando os dentes com força. Era uma honra ter sido escolhida pelos híbridos para perpetuar a espécie com um zari nativo. Ela não podia profanar aquele momento, talvez o último daqueles tempos.

Ele caminhou na sua direção mudo e concentrado; ela percebeu com prazer que o corpo dele também estava pronto para a transmissão. Os olhos dele eram tão luminosos que quase clareavam a neve e ela se sentiu presa a eles como uma escrava atada ao tronco de seu suplício.

Quando deu por si, estava envolta em seu corpo forte e quente, enlaçando-o com pernas e braços languidos, procurando ávida pela tepidez do hálito dele.

Ele a afastou com frieza e se despiu. Logo a seguir, arrancou a roupa dela com violência e a derrubou na neve. Miriam sentiu as costas arderem, mas a intensidade do corpo dele a lhe penetrar absorvia qualquer sensação que tentasse se intrometer naquele momento.

O zari movimentou-se mecanicamente até inseminá-la, enquanto ela gemia e puxava-o contra seu corpo, tentando prolongar o coito quase desesperadamente.

Por mais que ela tentasse, não conseguiu mantê-lo junto a si. Ele fez seu trabalho, levantou-se e se vestiu tão frio e distante quanto se despiu.

"Glissai... deixa-me ir contigo...", suplicou ela sentindo as entranhas doerem.

O Comandante Thandal riu com vontade.

"Você acha mesmo que eu a quero, híbrida?", perguntou ele sarcástico, "A única coisa que eu quero de você é que prepare terreno para a chegada do meu povo. E que me dê um herdeiro forte como um Glissanat precisa ter."

Miriam sentiu a vergonha soterrar sua rápida ilusão. Como ela pôde ultrapassar a barreira da transmissão e pedir que ele a levasse?

Um arrepio lhe contou que ela estava nua sobre a neve. Sentou-se devagar e procurou pelas roupas, percebendo a genitália sangrar.

Thandal estudou Miriam enquanto ela, silenciosa, se recompunha. Até que aquela híbrida tinha sido uma boa escolha. Era forte, intensa, altiva. Com certeza ela lhe daria o filho que ele tanto esperava desde as primeiras inseminações. Um varão para comandar as tropas híbridas de conquista.

"Anda, híbrida. Levanta e volta para o teu grupamento."

Miriam sentiu a fúria do orgulho ferido incendiá-la sem piedade. Como ele tinha a audácia de falar com ela naquele tom? Ela, a híbrida número um do grupamento europeu? Um exemplo para a comunidade mundial?

"Glissai, antes de ir, permita-me um presente como forma de me redimir pela minha fraqueza."

"Finalmente, uma híbrida de valor. Sim, Miriam, prossiga."

E ela causou uma explosão de 10 megatons, destruindo tudo num raio de 500 km.

2 comentários:

ABELARDO DOMENE PEDROGA disse...

Um razoável conto Jaqueline. Bem escrito e soube como poucos trabalhar o lado obsceno e quase pornográfico do mesmo sem se utilizar de subterfúgios como palavras mais ásperas ou fortes. Só não entendi como ela pode provocar a explosão, afinal estava nua, faltou indicar de onde ela arrumou o petardo nuclear. Bom texto.

Aguinaldo disse...

Excelente história, mas me senti perdido em vários momentos: o que é uma híbrida, um zari, o que raios está acontecendo e que explosão foi aquela??? Tunguska??? Odeio autores que explicam o óbvio, mas você exagerou... :)
A história coube direitinho dentro do limite e está com um bom ritmo, só falta um background...

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