472 Palavras


— Tem certeza que você pode controlá-los? — perguntou o leiloeiro.
— É claro! — respondeu o rapaz, irritado, estendendo a mão cheia de moedas. — Afinal, eu sou um mago.
— É que esses homens-macacos são perigosos, apesar de serem muito burros. Há de se ter muito cuidado.
— Não preciso dos seus conselhos. Agora pegue o dinheiro. Venci o leilão e quero minha mercadoria.

***

No escuro laboratório, preparou com cuidado a poção de controle. Seguiu à risca as instruções do livro de alquimia. Depois ficou em dúvida: como faria para administrá-la? Resolveu usar frutas. Injetou a poção em laranjas, maças e bananas. Colocou tudo em um balde e desceu até a masmorra.
— Hora de comer! — Gritou, enquanto derramava as frutas no coxo da jaula.
Os homens-macacos se aproximaram, pegaram as frutas e cheiraram. Ele sorriu satisfeito, achando que logo teria os novos escravos sob controle. Mas os macacos fizeram caretas e começaram a jogar as frutas nele, urrando e gritando:
— Nós querer carne!
Tentou se esquivar e proteger-se com os braços. As frutas duras o machucavam, melhor seria se estivessem podres. Encolheu-se atrás de um barril. Quando a saraivada de frutas acabou, levantou-se e foi em direção à escada, xingando os macacos. Com o fim da munição de frutos, eles lançaram mão das fezes à disposição na jaula.
Chegou lá em cima todo emporcalhado e fedendo mais que um gambá. Banhou-se em três águas para se livrar da sujeira e do cheiro, mesmo assim continuou se sentindo imundo.
E agora? Como faria para forçá-los a tomar a poção? Queria muito ter os macacos como escravos-zumbi. Era bem mais barato do que contratar guardas e servos humanos. Além disso, os colegas magos passariam a vê-lo com outros olhos por ser capaz de fazer aquela difícil poção.
Teve uma idéia: usaria carne moída. Comprou alguns quilos no açougue, pôs em uma bacia e derramou a poção sobre ela.
Desceu as escadas da masmorra sem fazer barulho e logo ao sair do corredor mostrou a bacia de carne, para evitar novo bombardeio de fezes. Os homens-macacos começaram a guinchar, felizes. Jogou a carne no coxo, eles devoraram tudo em poucos instantes.
Após um minuto passaram a exibir expressões hipnotizadas. O jovem mago ordenou:
— Levantem o pé direito — eles obedeceram. — Agora levantem o esquerdo — o mesmo, e todos caíram. — Vocês são muito burros mesmo! — zombou.
Abriu a jaula, contente. "Vou mostrar àqueles anciões do que sou capaz", pensou. "Quero ver eles falarem agora que preciso ter mais atenção nos meus estudos".
— Saiam.
Eles saíram em fila indiana. O jovem mago, com as mãos na cintura, observava-os satisfeito e sorrindo. De repente, pararam e olharam para ele, com sarcasmo e fome nos olhos.
— Mais carne — falou um dos macacos, arreganhando um sorriso.
Percebeu tarde demais que eles não eram tão burros assim, e que precisava realmente ser mais zeloso nos seus estudos.

3 comentários:

Rafael Duarte disse...

Oi, Bira. Legal estar concorrendo.
Não votei no teu conto porque gostei muito do conto do Carqueija, mas o seu estava entre os três melhores. O seu, o do Relva e o do Carqueija são os que mais gostei e estão bem parelhos em qualidade. Os outros prometem mas ainda têm chão pra trilhar...
Boa sorte. O seu conto tem chance.
Abraço, Rafi.

ABELARDO DOMENE PEDROGA disse...

Gostei, despretensioso, leve, criativo. Só achei que a menção a carne moída foi talvez um pouco "forçada", afinal se deduz pelo fato dele ser um mago que estamos em uma época, digamos remota, e deduzo por isso que à época onde supostamente se passa o conto não havia carne moída para ser comprada...tirando esse detalhe gostei do texto.

Aguinaldo disse...

Uma historia simples: mago tenta controlar seres primitivos e acaba sendo enganado por eles. Mas fica uma dúvida, como os homens-macacos ficaram sabendo da poção de controle???
O conto está redondinho, aproveitou muito bem o limite de 500 palavras...

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