544 Palavras

O calor das chamas aquecia o corpo da Princesa, tingindo de escarlate os véus que estalavam ao vento, marcando-lhe as curvas perfeitas. Sua mente vagava pelo dia anterior, em uma mistura de culpa e saudade. Observar a lava escorrendo pelas laterais do vulcão que sustentava o palácio costumava ajudá-la a refletir. Mas, naquele momento, o líquido quente vertendo da montanha trazia-lhe mais lembranças. Suspirou profundamente, uma, duas vezes. Estremeceu.

- Esqueça.... esqueça!

Sacudiu os cabelos negros e deixou a varanda do quarto. Sua aia trocava os lençóis de cetim negro da grande cama.

- Saia.

- Sim, Senhora.

Arrependeu-se:

- Não! Volte!

- Pois não, Senhora? – A voz da serviçal tremeu frente a uma possível repreensão.

- Traga-me água para um banho. Fria, com muitas pedras de gelo.

Apesar de estranhar o pedido e o comportamento de sua Senhora, a aia saiu aliviada. A Princesa, então, deitou nos lençóis desarrumados, abrindo e fechando os braços sobre a cama. O dossel vermelho a incomodava; levantou-se e colocou-o abaixo. Quando a serviçal retornou, o véu e as hastes da cama estavam destruídos. A Princesa rasgava meticulosamente os pedaços do tecido. Foi em direção à garota e pegou-lhe pelos braços, fincando as longas unhas em sua pele alva

- Vá logo! Coloque a água na tina! Não agüento mais este calor!

Assustada e com os braços ardendo de dor, a aia correu até o banheiro levando os baldes com água e gelo. Despejou tudo dentro da tina, completando com água das torneiras.

- Devo chamar a banhadeira, Senhora?

A responsável pelos banhos do palácio era uma mulher velha, experiente em tratar a pele contra as intempéries do clima quente e sulforoso. Era capaz de retirar sem danos as lascas de pedra vulcânica que penetravam a epiderme.

A Princesa deixou seu vestido deslizar para o chão. O suor descia por seu pescoço, escorrendo até a barriga. Observou bem a garota, de cima a baixo.

- Não. Fique você mesma. Apenas ajude-me a refrescar a mente.

Deitou-se na água fria, suspirando, adorando cada arrepio. A aia passava as pedras de gelo por sua pele dourada, pelo ventre, pernas, pés. A princesa tentava manter os pensamentos nas mãos da garota, mas finalmente rendeu-se às lembranças do dia anterior.


Havia acontecido um baile no Palácio Real, um encontro das linhagens nobres da cidade. A Princesa desobedeceu às ordens do Rei e da Rainha para que permanecesse em seus aposentos, seduziu o guarda em sua porta e desceu ao salão. À frente dos súditos que de nada sabiam dos assuntos particulares do Palácio, seus pais não puderam repreender-lhe. Encantou-se rapidamente com o filho de um Lorde das Terras Planas, cuja pele era clara como trigo e macia como seda, intocada pelo bafo ácido do fogo. Ele – como todos os homens – mal conseguia formular frases completas frente à beleza inebriante da jovem, e deixou-se levar aos seus aposentos. Tão logo deitaram-se, nus, sob o dossel escarlate, a Princesa deleitou-se de maneira tal como não lembrava ter feito jamais antes.

Quando abriu os olhos, viu novamente o líquido quente descendo por seus dedos, pela mão e o braço, como a lava que escorre entre as pedras escuras da montanha. Provou o sangue da garota, e era quase tão doce quanto o do dia anterior.

2 comentários:

ABELARDO DOMENE PEDROGA disse...

Digamos que é um texto bem escrito mas que deixa falhas no enredo. Afinal não entendi bem como um castelo ou palácio pode ser construído na beira de um vulcão, ao menos me passou essa impressão e ainda haver festas e uma corte vivendo no local que deve ser bem quente. O final mostra que a tal princesa provavelmente é uma vampira. Faltou, a meu ver, trabalhar melhor na estória.

Aguinaldo disse...

Uma historia interessante, você soube bem em esconder a natureza do conto até o último parágrafo, muito bom... :)
Você exagerou um pouco na introdução, o que deixou o final meio corrido...

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