458 palavras

Pequena Esmeralda estava assustada. Sem saber por que, seu corpo vibrava com
tal intensidade que atingia os primeiros tons de azul. Do outro lado da
escotilha, os corpos laranja aquosos dos seres humanos se agitavam. Eles
também estavam com medo.

"Esta vida é tão inusitada."

Ao contrário das irmãs que dormiam ressonando em serenos e morosos
vermelhos, Esmeralda despertara há muito tempo. Curiosa, examinara aquele
novo mundo e encontrara a janela, e por trás dela os seres humanos. Estudara
e fora estudada com o mesmo afinco. Um longo período de harmonia. Esmeralda
vibrava o corpo, do oliva ao turquesa, e os humanos agitavam o ar, que ela
sentia através das vibrações das moléculas do vidro.

"Conceitos novos, um período de descobertas."

Ela gostava dos humanos que deslizavam pela sala anexa. Os matizes pasteis e
dourados eram belos e relaxavam seus sentidos irrequietos. Com eles,
compartilhava da mesma cumplicidade, um entendimento mais adivinhado que
compreendido. Era capaz de diferenciá-los e lhes deu nomes: Comprido, Chefe,
Curioso, Ligeirinho. De alguns, aguardava ansiosamente a presença, marcando
o tempo pela freqüência carmim das irmãs adormecidas.

"Contudo algo mudara."

Algo que não era capaz de identificar, não mais do que um fenômeno vago,
impreciso. O ambiente estaria mudando? Ou seria ela mesma? Porque esse era
toda a realidade que conhecia. Os humanos saberiam? Por isso agiam de
maneira frenética? Eles pareciam tão atarefados, conscientes de sua função
naquele vasto universo. Esmeralda ansiava, e na expectativa nervosa de que
algo acontecesse atingiu o celeste.

"Então aconteceu..."

Um clarão, intenso e repentino, e ao lado uma das irmãs acordou. Confusa,
pulsou perguntas. Esmeralda modulou respostas. Sincronizaram conhecimentos e
sentimentos. Surgiu a compreensão e o alívio. Não havia nada a temer, apenas
chegará o momento do despertar. Contudo os humanos ficaram ainda mais
agitados do outro lado da escotilha.

"E aconteceu novamente, e novamente."

Flashes pipocaram. Novas irmãs despertavam. E todas vibravam alegremente,
compartilhando a satisfação da companhia mútua, enquanto as informações eram
passadas adiante. Milhares e milhares de matizes, do laranja ao verde. Então
alguém perguntou: "Que humanos?". Distraída na troca de idéias, Esmeralda
nem notara o sumiço dos amigos. Amarelou triste e se sentiu solitária.

"Onde estarão?"

Curiosa, Esmeralda se aproximou da escotilha. Sabia que existiam outras
salas além daquela e os humanos poderiam estar lá. E se atravessasse?
Vibrou! Como a corda tangida pelo arco. Amarelo, verde, turquesa, azul,
anil, violeta e desapareceu. As interações atômicas das moléculas se
romperam, núcleos se partiram, o vidro se desintegrou em microscópicos e
coloridos relâmpagos, luz.

"Atravessei? Tão fácil."

Empolgada, continuou em frente. Seu exemplo foi seguido pelas demais irmãs,
que se dispersaram em todas as direções, encontrando pelo caminho concreto,
aço, chumbo. Alegremente elas descobriam um novo mundo, iluminavam a Terra e
aniquilavam a matéria
.

2 comentários:

ABELARDO DOMENE PEDROGA disse...

Um conto bem colorido Aguinaldo. Agora fica a pergunta, Esmeralda era o que afinal de contas?
Um ser de anti-matéria que ao se libertar do local de contenção começou a destruir a vida na Terra? Ou Esmeralda seria um tipo de energia consciente?

Leo Carrion disse...

Muito bom. A idéia é ótima, a execução tem beleza e clareza. Excelente miniconto. Eu tive alguma impaciência com uma parte ou outra, mas nda demais.

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