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O cavaleiro viajou durante muitas semanas até chegar à famosa cidadela. Nela, o alquimista gnóstico vivia na mais alta torre. Lá morava como um eremita, sem contato com o mundo terreno. Diariamente, fazia descer de corda uma cesta com peças de ouro, que os cidadãos trocavam por víveres e ingredientes. Mas nesse dia, o cavaleiro saltou na última hora e se agarrou na corda que subia. Ao atingir o topo, sacou da espada e exigiu que o cientista lhe contasse os seus maiores segredos. O alquimista levou o cavaleiro ao laboratório. Ordenou que defecasse num frasco de vidro e, com sua arte, transformou as fezes em ouro.


--- Você é excremento. Você é ouro. Tudo está em tudo. A matéria é Deus.

Mas o aventureiro não se deu por satisfeito. Demandou que o erudito lhe desse a sabedoria absoluta para ele se tornar o novo messias. O gnóstico contou que detinha a fórmula de preparo para a poção da sabedoria absoluta. Mas para isso, o cavaleiro deveria trazer o mais raro dos ingredientes: a flor de lótus púrpura. E ela só cresce no cume da Montanha dos Filósofos. Perguntado onde fica, o sábio explicou que a montanha só pode ser encontrada por quem não a procura e, de qualquer forma, para achá-la, ele deveria cumprir uma jornada de seis desafios.

Tomando emprestado o balão do alquimista, o cavaleiro partiu e engajou-se em sua busca durante meses. No princípio, achava que enfrentaria tempestades, labirintos, armadilhas e feras. Porém logo descobriu que, mais do que desafios físicos, cada episódio era parte de uma cuidadosa preparação espiritual. Dividia-se em seis etapas: a confusão, o medo, a miséria, o silêncio, a vontade de nada e a auto-anulação. Seis fases que o cavaleiro superou com engenhosidade e firmeza de propósitos.

No final da sexta, adentrou naturalmente em um estado de meditação profunda, e assim o caminho para o zênite da Montanha revelou-se como por encanto. Na subida, o cavaleiro foi tentado por um jardim de delícias, em que poetas, atores, escritores e filósofos haviam sucumbido. Mas ele perseverou. Um pouco antes do objetivo, foi ainda confrontado com uma dificílima prova, cujo fracasso significaria a morte certa, mas o cavaleiro novamente venceu. Triunfante no alto da Montanha dos Filósofos, colheu a lótus púrpura.

O alquimista preparou a poção e o cavaleiro bebeu sem deixar uma gota. Um vento tórrido engolfou-lhe das entranhas e a escuridão mais escura tomou os seus olhos. Agasalhou no peito os reinos sem fim do conhecimento e, mais além desses monumentos da verdade, golpeou-lhe de uma só vez o absurdo original e seus enigmas mais abissais.

O alquimista alertou:

--- Muita parcimônia. Você agora entende não entendendo, toda a ciência transcendendo.

Mas o cavaleiro estava obstinado em seu desígnio de levar aos povos a Boa Nova. Desceu à superfície, declarou-se profeta e conclamou a todos para o anúncio da Verdade. Uma multidão já se reunia desconfiada a seu redor, quando o cavaleiro se deu conta da revelação mais terrível de todas. O conhecimento último era incomunicável.

O cavaleiro foi preso, torturado e executado.

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